10.10.11

Xeno

Estou chateada mas não surpresa, nesses últimos dez dias me deparei com uma figura desagradável, um troll que andou me perseguindo no blog da Lola (que é feminista, recomendo ‘fortemente’ a sua leitura, rs).

O dito cujo não poupou xingamentos para que eu me sentisse mal por não ter nascido aqui nessas terras, segundo sua argumentação (ofender gratuitamente não é argumentar) era de que eu como estrangeira roubava um emprego de um brasileiro natural.

Isso é ridículo, por dois pontos principais: primeiro, consegue o emprego na área quem tiver maior capacidade de formação e experiência, isso não dependerá da sua naturalidade e segundo que o inverso também seria verdadeiro se a “premissa” do rapaz fosse lógica, não estaria então um brasileiro roubando empregos lá fora? Pensar dessa forma é tão pobre, essa forma protecionista é tão século XX que prefiro imaginar que você ao tomar contato com outra cultura está acrescentando novas idéias para forma de agir e não subtraindo.

Na verdade eu avaliei essa questão mais sobre a perspectiva do choque, ou falta de costume de lidar com a situação, confesso que ao vir pra cá ouvi muita coisa idiota, mas a maioria eram apenas comentários inocentemente ignorantes de pessoas que queriam expressar sua curiosidade, nada que machuque.

Quando você é nova em um lugar todo mundo quer te conhecer melhor (alguns com segundas, terceiras e QUARTAS intenções but) isso é natural, quando você é nova e “exótica” daí que a curiosidade surge MESMO.

Querem saber de tudo, o que você come, o que veste, que tipo de música tem por lá, enfim, as perguntas são infinitas e plurais (algumas já vem com julgamento de valor embutidas)e vão desde:

“COMO ASSIM? Você come pipoca no café da manhã? Sério? Nofffaaaa!”
“Vocês jogam bola? Como? A bola é branca.....ah! Lá as bolas oficiais são laranja?Que feio...digo, que legal !”

Mas isso eu “tirei de letra” como se diz por aqui, o problema é quando alguém acha que por ser de fora a sua pessoa automaticamente não vai se encaixar no “padrão”. Daí que vêm as verdadeiras abobrinhas (alguém me explica pq no Brasil ‘abobrinha’ é sinônimo de ‘bobagem’?).

Dizem que você é branquela de dar dó, que você é tão branquela que dá pra ver suas veias da barriga, ou melhor, suas tripas sem a ajuda de um raio-X, ou então ao ir a praia tu vai derreter, pq né? Se o lugar da onde você veio tinha muito gelo, você só pode ser de gelo também.

Acham que você tem “coração de gelo” que sua timidez está no sangue ou então que você não gosta dos animais, não consegue criar laços afetivos e está pouco se importando para o criança esperança, sim você é praticamente o Exterminador do Futuro, mal muito mal, mata gatos e come com mingau.

Confesso que tudo isso é muito leve se for comparar de perto com pessoas nativas de outros lugares que não sejam vistos fantasiosamente como “de primeira linha”. Uma coisa é você ser egressa de um país distante da Europa, mas que as pessoas pensem se tratar de um cenário de dungeons and dragons. Outra coisa é você vir de uma cordilheira por exemplo.

3 comentários:

  1. Oi, Niemi!

    Agora sou eu que te visito ;)

    Sempre achei que "Hyyrynen" fosse um apelido que você escolheu pra usar na Internet. Então quer dizer que você é estrangeira? Que agradável surpresa! Se não se importar em dizer aqui, gostaria de saber de onde você veio, por pura curiosidade mesmo. Fico curioso inclusive para saber há quanto tempo você está aqui, se algum de seus pais ou alguém com quem conviveu íntima ou familiarmente falava português. Digo isso porque seus textos não parecem, absolutamente, de alguém que não tenha português como língua materna. Vejo inclusive que você se arrisca em poesia! Muito legal! Desculpe, inclusive, se essas informações foram dadas na Lola... é que, como já disse por lá, ela ficou pop demais, hahaha, e simplesmente não tenho mais tempo para me dedicar com atenção a todos os comentários (é um estilo meu tentar fechar texto e comentários numa grande rede de raciocínio... quando tem muitos, eu simplesmente pifo).

    Agora, quanto ao ponto... bem, não dá para dizer muito sobre trolls, pra começo de conversa, porque não estão lá para argumentar mesmo, nem para ocupar um conteúdo, como você muito belamente colocou no pórtico de sua caixa de comentários aqui. Isso dificulta qualquer análise que vá para além disso. Mas pegando o gancho na xenofobia, é aquela coisa mesmo; historicamente, e ainda hoje, a maioria esmagadora dos imigrantes não saem de sua terra natal porque querem, simplesmente. Como o mundo dá voltas, mesmo esse que te xinga pode, amanhã, ser obrigado a sair, seja por trabalho, casamento, etc.. E aí é que pega: nenhum xenófobo quer receber, lá fora, o tratamento que dá a um estrangeiro aqui.

    Além disso, seja na Europa, seja nos EUA, seja no Japão; os empregos que os imigrantes assumem são justamente os que os nativos nunca aceitam, então não existe roubo nenhum. Pelo contrário, existe acréscimo sim: são esses imigrantes que irão permitir que essas sociedades possam ser servidas por garçons, babás e etc.. Mas no caso específico do seu troll, ainda há um agravante: o Brasil não enfrenta nenhuma crise de empregos hoje para que ele sinta raiva de você por teoricamente roubar o emprego dele. Aliás, sequer acredito que ele saiba com o que você trabalha; há uma considerável chance de que vocês nem sejam concorrentes no mercado de trabalho.

    No fundo, o que acontece é que o planeta é um só e somos todos cidadãos da civilização humana. Não faz sentido, de um ponto de vista humanitário, dizer que temos mais ou menos direitos em uma terra ou outra, só porque nascemos em um lugar ou outro. Isso só acontece porque ainda dividimos um mundo que é um só, na verdade. Bem, mas tudo isso é argumentação para quem tem boa fé de se dispor ao debate. Coisa que não há em trolls, né.

    Abraços, querida!

    (ah, e o desenho no topo é seu?!)

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Oi, oi, Niemi!

    Obrigado por me contar toda a história. Foi muito interessante saber de tudo aquilo. Lapônia, que legal... tenho vontade de conhecer esses lugares distantes, que como você mesma disse, soam pra nós mais como locais de contos de fada. Mesmo eu não lidando muito bem o tempo frio.

    Salvo engano meu, ouvi uma música do Nightwish que era em finlandês e achei linda... é verdade que tem várias declinações? Finlandês é algo que soa extrema e positivamente exótico pra mim...

    Realmente, o Paulo Coelho é meio achincalhado aqui, mesmo tendo entrado para a Academia Brasileira de Letras. Nunca li nenhum livro dele, e sempre que começam a falar mal, eu faço essa ressalva. Até porque tenho uma dívida com o autor. Quando tinha meus 14, 15 anos, foi quando eu passei por uma fase difícil, e curiosamente foi lendo uma "coluna" que ele escrevia para uma revista dominical do jornal Agora que eu consegui um bom ânimo pra superar aquele momento. Dá para dizer que influenciou alguma parte do meu caráter, sim. Dessa forma, ainda que eu nunca tenha lido um livro dele, é injusto eu falar mal do Paulo Coelho, né? rs

    Você parece ser alguns anos mais velha do que eu, que nasci em 85. Fico feliz que esteja se sentindo bem por aqui! =)

    Por fim, dou todo o incentivo para a história em quadrinhos; gosto muito delas em geral, e também eu já pensei em fazer algo do tipo narrando essa época aí em que eu tinha o P. Coelho como aliado. É bem legal imaginar essas coisas... tomara que consigamos.

    Grande abraço e boa sorte!

    Thiago

    ResponderExcluir

olá/ caro visitante.

para refletir a organização deste lugar | há um ditado que diz assim:

"quando nos dão um espaço / querem que ocupemos com conteúdo"

adeus\